E o pó virou produto

Projeto Ligno

Projeto Ligno: do pó ao design de produtos
Resíduos de madeira são transformados em produtos na Escola de Arquitetura e Design da UFMG

UFMG
O descarte de resíduos de madeira é um grande problema para a indústria moveleira de Belo Horizonte. Todo mês, aproximadamente 300 toneladas do pó que sobram do manuseio da madeira são descartadas por indústrias do setor, que devem pagar para que o descarte seja feito adequadamente.

Dado esse panorama, a pesquisa coordenada pelo professor da Escola de Arquitetura e Design da UFMG, Glaucinei Rodrigues Corrêa, busca encontrar um melhor destino a esses resíduos. Batizado de Ligno, o projeto desenvolveu uma tecnologia capaz de transformar o pó em produtos de alto valo agregado, como portas-copo, bandejas e luminárias. Em entrevista à TV UFMG, o professor conta mais sobre o projeto.

Entrevistados: Glaucinei Rodrigues Corrêa (prof. Escola de Arquitetura e Design UFMG) e Roberto Neves (aluno Escola de Arquitetura e Design UFMG)

Equipe: Larissa Costa (produção e reportagem), Antônio Soares (imagens), Kennedy Sena (edição de imagens), Ruleandson do Carmo (edição de conteúdo).


 

DESIGN E CRIATIVIDADE PODEM RESOLVER PROBLEMAS COM RESÍDUOS DE MADEIRA

FAPEMIG

Foto: William Araújo – Minas Faz Ciência

COM FOCO NA SUSTENTABILIDADE, PROFESSOR E ALUNOS DE DESIGN DA ESCOLA DE ARQUITETURA DA UFMG CRIAM PRODUTO QUE REAPROVEITA O PÓ DESCARTADO POR MARCENARIAS

Para Glaucinei Rodrigues Corrêa, professor de Design no curso de Arquitetura da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), universidades públicas devem ter como premissa o compromisso social. Encontrar respostas que facilitem a vida em comunidades e solucionem dificuldades são responsabilidades dessas instituições.

No projeto desenvolvido por Corrêa, chamado “Ligno: material compósito com resíduo de madeira”, esses princípios são seguidos.

COMO SURGIU O LIGNO?

Em 2015, enquanto Corrêa orientava o Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) de uma aluna, um velho problema da indústria moveleira foi trazido à tona: como lidar com a serragem resultante do corte das placas de madeira que acumula nas oficinas e precisa ser descartada corretamente para não causar impactos negativos?
Para isso, por meio da criação da Lei 12.305, de 2010, foi instituída no Brasil a Política Nacional de Resíduos Sólidos, que parafraseada por Corrêa, se resume em: “o gerador de resíduos deve fazer a gestão desse material, buscando a destinação indicada”.

Segundo estatísticas levantadas pelo pesquisador em 2016, com base nas empresas filiadas ao Sindicato das Indústrias do Mobiliário (Sindimov-MG), das cerca de 300 toneladas mensais de resíduos gerados pelo setor, apenas 16% recebiam destinação adequada. As demais eram descartadas em aterros sanitários, usadas em forragens de granjas ou queimadas.

“Esse material tem uma cola, que nos termos técnicos é chamada de aglomerante ou aglutinante ou adesivo, que é cancerígena se for queimada e inalada”

, diz Corrêa.

Por isso, hoje, respostas criativas para esse gerenciamento são apreciadas pelos sindicatos.

À época da orientanda, Corrêa já havia defendido uma dissertação em que propunha uma nova matéria-prima construída a partir da união desses resíduos com plástico. Assim, resgatou a informação e debruçou-se sobre uma nova perspectiva: “desenvolver processo produtivo completo para fabricação dos produtos à partir dos resíduos”.

Assim surgiu o Ligno, processos tecnológicos que associam resíduos de madeira e design para fabricar materiais com os compósitos gerados.

PERSPECTIVAS

O projeto foi criado com a finalidade de dar alternativas de destinação dos resíduos gerados pelas indústrias moveleiras. Em 2015, participou do edital de chamada universal do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPQ) e conseguiu apoio para continuar.

Os produtos gerados pelo processo tecnológico Ligno passam pela menor quantidade de etapas possíveis, o que simplifica o aprendizado da fabricação:

Coleta do material
Peneiramento (classificação da granulometria)
Mistura com resina (criação do compósito)
Pesagem
Preenchimento do molde
Prensagem em alta temperatura
Cura (15 minutos).
Atualmente, foram desenvolvidos dois produtos a partir do processo, que são porta-copos e bowls. Uma das características descobertas com as peças é que dependendo do material usado no compósito, durante a etapa de prensagem, o resultado adquire cores diferentes.

Além disso, os produtos saem da última etapa sem a necessidade de mais acabamentos, dependendo do uso.
Glaucinei R. Corrêa – Foto: William Araújo – Minas Faz Ciência

Segundo Corrêa, a indústria moveleira gasta cerca de R$ 0,14 para dar destinação adequada a 1 quilo de resíduos de madeira. O Ligno gera porta-copos e bowls usando 100 gramas e 200 gramas do material, respectivamente. A taxa de produção é de quatro utensílios por hora.

As peças podem diminuir os impactos ambientais, trazer ganhos socioeconômicos e resolver os problemas enfrentados pelo setor.

Veja abaixo a entrevista feita com Corrêa.

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